“Ele é uma pessoa que não para. Então lá vai ser o momento que ele vai viver. Vai ser o momento dele. Ele está com 40 anos e nunca o vi tirar férias. Quando eu soube, eu pensei: as pessoas vão conhecer o que nós já conhecemos”, revela a mãe.
Nada melhor que os amigos para definirem quem seria Rodrigo. “Não importa o gênero da pessoa, ela sempre fala: o Rodrigo é fofo. Ele é extremamente profissional. Até para exigir, ele é tranquilo”, conta César.
Sua infância aconteceu no subúrbio carioca, mas sem grandes sacrifícios. “Tenho uma lembrança boa. Não foi uma infância de luta, de passar fome. Meus pais batalharam muito para gente ter a melhor educação”, relembra.
Filho de um militar e uma funcionária pública, Rodrigo – que é trigêmeo - usou a educação para ultrapassar os obstáculos que surgiram em seu caminho. Um deles, a dislexia.
“Na minha época, não tinha psicopedagogia. A menina e o menino que tinham dislexia eram burros”, explica o brother que decidiu estudar para entender direito o que tinha.
Bolsista em escola particular, Rodrigo aprendeu inglês apenas quando era adulto. Entretanto, isso não o impediu de fazer Mestrado em Educação, em Wisconsin, nos Estados Unidos. Aliás, essa foi uma época complicada na vida de Rodrigo, mas que ele não guarda rancor. Serviu para um aprendizado.
“Quando eu estudei fora, eu era praticamente o único negro. Foi bastante duro. Lá eu não tinha quem me protegesse, era um cidadão de segunda classe. Foram dois anos. Foram anos difíceis, mas tudo bem”, explica.
Uma das preocupações de Rodrigo, através de suas palestras nas escolas, é tentar desmistificar as crenças que a sociedade tenta impor, principalmente às crianças. "Ela não tem os vícios que os adultos, normalmente, têm. Eu acredito que a forma de você possibilitar um futuro melhor é quando você foca na criança. Ou quando você foca no teatro ou na educação”, diz o participante, que escreveu a peça 'O Pequeno Príncipe Preto'".
Para Rodrigo, representatividade importa e muito. No final do ano passado, ele teve a experiência de se vestir de Papai Noel em uma ONG na Cidade de Deus, comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro. “Uma criança me disse: o senhor é mais bonito que o outro Papai Noel. Isso é importante porque é uma criança negra, se reconhecendo bonita. Principalmente na Baixada Fluminense, que tem uma grande concentração de negros e muitos não se autodeclaram. A gente conversa com essas crianças e elas começam a se autodeclarar como bonitos”, enfatiza.
Apesar de bem crescido, as preocupações de Vera continuam a mesmas com Rodrigo e ela não consegue segurar as lágrimas ao se despedir do filho:
“Sua família toda está com você. Não só sua família carnal, mas também a espiritual. Isso você tem que lembrar sempre: que você não está lá sozinho. E não deixa ninguém te humilhar porque nossa cor é muito sofrida”.
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