O Brasil é um reality show. Polarizado politicamente e à beira do colapso nos sistemas público e privado de saúde, o País vive uma realidade dramática, um show de horror. Paralelamente à vivência real existe o Big Brother Brasil, onde os participantes estão supostamente blindados contra a covid-19, mas não protegidos de si próprios. Sarah acelerou um processo de autodesconstrução que pode custar o favoritismo ao prêmio.
Em apenas uma semana, ela protagonizou três momentos que produziram reação ruidosa — e custaram a perda de muitos fãs e votos. Primeiramente, a consultora de marketing contestou a veracidade da intenção do beijo na boca entre Gil e Lucas. “Eu não sei se era verdade, até hoje não tem como saber. Eu não tô falando de ser homossexual, eu tô falando de beijo na hora errada”, disse. Curiosamente, não manifestou a mesma dúvida em relação aos beijos de outros ‘casais’ do programa.
Depois, Sarah revelou ter deixado de seguir Jair Bolsonaro em rede social por temer o ‘cancelamento’. Agora, admite apoiá-lo. “Impeachment de algum presidente, de algum País? Não do nosso, eu gosto dele”, afirmou em conversa na madrugada. Houve reação imediata na internet. A hashtag #ForaSarah chegou ao primeiro lugar no Trending Topics do Twitter. Incontáveis telespectadores registraram decepção com a carismática sister, melhor jogadora da edição.
Vivemos em uma democracia. Sarah tem o direito de gostar de Bolsonaro e merece ser respeitada. Mas toda opção gera uma consequência. Mostrar-se identificada com o político mais controverso da história recente do Brasil — na tela da Globo, a emissora demonizada por ele — produz antipatia instantânea em parcela significativa do público. Em termos de estratégia, quase uma autossabotagem.
Resistente aos adversários na casa, ela faz de Bolsonaro o seu maior obstáculo rumo à vitória. Escolheu o lugar errado e a hora errada para declarar posição ideológica. Acabou traída por sua sinceridade. Na era do radicalismo, basta um deslize para implodir uma imagem pública e gerar onda de impopularidade. Com boa chance de estar entre os finalistas, Sarah começa a desidratar nas enquetes sobre quem merece vencer o ‘BBB21’. Assistimos realmente a um show de realidade distorcida como nunca se viu: lá dentro e aqui fora.
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