Como tantos brasileiros, os dois são frutos da luta de mulheres que criaram seus filhos com força e dignidade
Que nos perdoem os outros dezoito participantes que aceitaram participar do Big Brother Brasil 21, mas é justo afirmar que nenhum deles merece tanto uma vaga na final quanto Juliette e Gilberto. A paraibana e o pernambucano representam tudo o que faz do BBB um reality show capaz de despertar tantas paixões: são dois personagens aparentemente banais, com histórias de vida comuns a tantos brasileiros, mas que demonstram a cada segundo a ousadia de querem mais - para eles, para suas famílias, para seus futuros.
Na base desses personagens estão duas mulheres fortes, capazes de tudo para darem aos filhos um futuro digno. De um lado Fátima Freire, a mãe de Juliette que aprendeu a ler e a escrever com a ajuda da filha. "Eu e minha irmã ficávamos muito agoniadas dela não escrever", contou ela nesta quinta-feira (22). "Aí a gente ensinava. 'Mãe, aqui é um 'a', bora'. Pegava a mão dela mesmo", explicou ela com a simplicidade de quem não entende a força de sua própria trajetória.
Do outro lado está Jacira Santana, a mãe de Gilberto marcada pela violência doméstica e que foi capaz até de se afastar dos próprios filhos para protegê-los da crueldade que viviam. "Meu pai brigava muito com a minha mãe, batia nela... eu queria muito uma solução, nem que fosse morrer, alguma coisa, porque eu não aguentava mais", contou ele nesta madrugada em um momento raro em que mencionou a história.
O tempo passou, o Brasil sofreu mudanças sutis. Gilberto e Juliette foram formados, ganharam valores, estudaram, se formaram. Ela se encontrou como maquiadora, ele investiu na carreira acadêmica e se tornou pesquisador em um país que não valoriza seus intelectuais. Até aqui, o destino já parecia generoso demais.
Mas esses dois heróis improváveis ainda viveram um novo capítulo: Juliette e Gilberto se encontraram no BBB21 e demonstraram lá dentro uma vontade absurda, não apenas de vencerem o prêmio de R$ 1,5 milhão, mas também de se despirem dirante do público, mostrando seus valores, suas histórias, suas virtudes e defeitos, suas certezas e suas inseguranças. Para eles, o reality não é apenas visibilidade, é uma chance, a grande chance, a maior delas. A oportunidade de orgulharem suas mães, descobrirem novos traços de suas personalidades e, principalmente, a chance de conhecerem mais sobre eles mesmos.
Talvez essa vontade tenha sido a grande energia propulsora da dupla que merece estar na final para honrar a história que é de Gil e Juliette, mas também é de Fátima e Jacira, duas mulheres que criaram seus filhos com toda a dignidade que lhes cabia. Para quem tudo foi negado, cada chance não é mais uma, é a chance.
Quem sabe o valor de uma oportunidade tende a agarrá-la com a força de um campeão.
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