Eliminada do BBB 22, Jessilane comemora Top 3 feminino 'É uma vitória também' — Foto: João Cotta / Globo
A vitória de Jessilane não foi o prêmio de R$ 1,5 milhão. Com 63,63% dos votos, em um paredão quádruplo que também tinha Arthur Aguiar, Eliezer e Gustavo disputando a preferência do público, ela deixou o ‘Big Brother Brasil 22’ a menos de dez dias para a final. Mas, segundo ela mesmo enumera, os ganhos começam por sua transformação pessoal, tanto no jogo quanto na maneira de ver a vida. A professora de Biologia quis mostrar ao Brasil o poder da educação e da resiliência: enfrentou sete semanas seguidas de Xepa, foi líder já na reta final do reality e teve tempo de ensinar aos companheiros de confinamento a importância de agir com o coração. Como resultado, foi a representante feminina a chegar mais longe nesta temporada. “Eu, Natália e Lina fomos o ‘Top 3’ das meninas. É uma vitória também. Mesmo não sendo a campeã, para mim, eu já ganhei. Fui a última mulher a deixar o programa, fiquei o máximo que eu podia ficar, curti tudo que eu podia curtir... Foi incrível”, reflete.
Confira, a seguir, como a ex-participante avalia a própria estratégia de jogo, as amizades que fez na casa e para quem deixa sua torcida, agora que não tem mais nenhuma das pessoas de quem ficou mais próxima no confinamento.
Como você descreveria sua passagem pelo ‘BBB 22’?
Acho que a minha passagem foi a coisa mais conturbada e contraditória que eu já vivi na minha vida (risos). Eu imaginava que eu fosse chegar lá, fazer e acontecer. E aí eu entrei e me vi completamente perdida, com medo de tudo e todos, sem conseguir me posicionar, sem conseguir viver o que eu queria viver. Só que de tanto ser atacada nesse lugar, eu acabei entendendo que se eu não me movimentasse não daria certo. E aí acontece o jogo da discórdia da "história do BBB". Naquele dia eu pedi a Deus para me dar forças o suficiente para falar: "gente, chega". Eu consegui me posicionar e falar por que eu estava ali, o que eu queria, como eu cheguei até ali e como iria jogar, para que todo mundo entendesse qual era a forma que eu decidi jogar. Daí para frente a minha história se transformou dentro do programa. Eu cresci como jogadora, como indivíduo, e todo mundo reconheceu esse crescimento. Não foi uma coisa que só eu percebi, todos da casa perceberam. Eu acredito que essa foi a chave para que, hoje, as pessoas me digam aqui fora que a minha trajetória foi bonita, que eu consegui transformar a minha história no BBB e tive tempo para fazer isso, graças a Deus.
Por que acha que foi eliminada?
Eu acho que por uma questão que vai muito além da minha trajetória lá dentro. É mais sobre torcidas, mesmo. Aparentemente o Arthur está muito forte e, de alguma forma, eu era um risco para ele. Provavelmente a galera não queria que ele tivesse algum tipo de problema até a final e votou para eu sair.
Você ficou quase três meses na Xepa e, mesmo depois de ir ao Vip, voltou para ele poucas vezes. Isso afetou o seu desempenho no jogo?
Eu acredito que sim porque estar na Xepa não é só sobre comida. É principalmente o fato de não estar ganhando nenhuma prova, não ser escolhido por ninguém para ir para o Vip e todo o contexto que traz a sua alimentação regrada, querer fazer as coisas e não poder. Isso mexia muito com o meu psicológico. Com certeza me atrapalhou no jogo; fez eu me sentir fraca diante das coisas que aconteceram. Foi bem intenso também por ter sido um período tão longo na Xepa: foram sete semanas seguidas, eu já sem esperança achando que seria eliminada sem nunca ir ao Vip, porque eu fui ao paredão na sétima semana. Mas eu entendo que o jogo é para isso mesmo.
Você sempre recebia “carinhas”, além dos corações, no queridômetro. Inclusive quando se tornou a única mulher na casa. Também disse que sentia resistência de alguns participantes. O que acha que faltou para um melhor convívio com os demais confinados?
Acho que foi mais a questão da disponibilidade. Eu muitas vezes via algum comportamento que não me agradava e acabava ficando indisponível para a relação com a pessoa. Com o Pedro Scooby, por exemplo, foi isso que aconteceu, no começo. Ele tomou as dores do Douglas Silva e eu fiquei com raiva por isso, aí criei uma barreira com ele, ele criou uma comigo... e isso já faz com que a relação não se estabeleça. Assim foi com Paulo André, Arthur Aguiar, com os integrantes do quarto Lollipop também, como o Eliezer e a Eslovênia. As situações que foram acontecendo faziam com que eu mesma criasse essa barreira. Já que a relação não estava dando certo, eu nem tentava, assim já era um motivo para eu votar sem peso na consciência (risos).
Por algumas vezes, pessoas de diferentes grupos te ofereceram a chance de aliança em votações, mas você dispensou todas elas alegando que agiria com o coração e não feriria seus princípios. Quais eram esses princípios?
Tudo começou quando eu precisava votar na Laís para salvar a Natália e, na semana seguinte, de novo, para me proteger. Mas não fazia sentido eu votar na Laís porque, mesmo a gente não tendo uma relação muito próxima, eu tinha um sentimento muito bom com relação a ela. Então, na minha cabeça, se eu votasse nela eu iria contra algo que eu acreditava, que era: se eu gostava da pessoa, se queria o bem dela, por que iria votar nela? Iria me tornar alguém melhor? Valeria a pena? Aqui fora, minha família ficaria feliz? Muitas vezes eu me questionei isso. E foi aí que começou a minha discussão com o grupo dos meninos. Eles definiam em quem a gente tinha que votar e, se a gente não votasse, não estava jogando. Só era jogador quem estava votando junto, na cabeça deles. Para mim, eu não estaria sendo coerente com o que eu sentia, então decidi não fazer.
O que te levou tão longe na disputa, na sua opinião?
Não foram os meus votos porque realmente eles não eram tão direcionados (risos). A primeira coisa eu acho que foi a minha transformação. Eu vinha recebendo características como "influenciável", "não ganha de jeito nenhum" e "figurante", nos jogos da discórdia, e quando eu me posicionei a galera começou a me ver no jogo de outra forma. Isso fez com que parassem de votar em mim também. A segunda coisa que eu acho que foi muito importante foi não ter definido um grupo. Em certo momento, o jogo virou um ataque do grupo Grunge no Lollipop e eu, Lina e Nat passamos a não receber voto. Da sétima semana até a décima segunda ninguém votou em nós três. A gente acabou caminhando no jogo sem ser votada. A Nat ficou dois meses sem ir ao paredão e Lina e eu ficamos mais de um mês.
Você, Lina e Natália têm personalidades bem diferentes e tiveram estratégias diferentes no BBB. Na sua visão, o que uniu vocês três e manteve a amizade?
No início, foi o fato de termos ficado no quarto Grunge e sermos as únicas meninas de lá, junto com a Naiara Azevedo. Com isso, o Lollipop já tinha se fechado, eles eram muito unidos, e a gente meio que ficou “largada”. Então, ou a gente se unia, se fortalecia e não soltava a mão, independentemente de qualquer coisa, ou a gente ia jogar cada uma por si sem ter construído nenhum vínculo afetivo. Isso fez com que a gente se unisse e, depois que de fato viramos amigas, isso acabou crescendo. Nossos sentimentos umas pelas outras eram independentes das discussões, das brigas. Era entre tapas e beijos, mas a gente se apoiava muito. Sempre tentamos colocar uma a outra para cima, dizendo que iríamos conseguir. Fomos eliminadas praticamente juntas, uma seguida da outra, e chegamos quase à final do BBB. Fomos a final feminina! Eu, Natália e Lina fomos o “Top 3” das meninas. É uma vitória também. Mesmo não sendo a campeã, para mim, eu já ganhei. Fui a última mulher a deixar o programa, fiquei o máximo que eu podia ficar, curti tudo que eu podia curtir... Foi incrível!
Que outros participantes, além de Lina e Natália, foram importantes na sua trajetória do programa e você pretende manter como amigos fora do BBB?
O Scooby, com certeza. Principalmente por tudo que aconteceu depois que as meninas foram embora. Ele ficou comigo. Quando eu estava lá fora, sem teto, por consequência do jogo da discórdia, ele avisava: “Jessi, vou lá tomar banho e volto aqui para ficar com você” (risos). Eu e o DG nos estranhávamos muito nas brincadeiras, mas independentemente do que aconteceu ele sempre estava lá tentando me apoiar, me ajudando, falando que ia ficar tudo bem. Ontem mesmo, quando saí, vi que ele ficou super emocionado, muito triste. É uma pessoa que gostaria de levar para a vida. O Gustavo eu amo! Por mais que ele tenha aquele jeito dele caçador de encrenca, é um coração mole, muito gente boa. Também o Vinicius, o Tiago Abravanel, a Naiara Azevedo... Tem muita gente, na verdade. Não vou falar que são todos, porque não são. Realmente tem umas pessoas que eu não vou fazer muita questão (risos), mas outras eu quero com certeza levar para a vida, além das meninas.
Você indicou o Arthur ao paredão e era falso, ele votou ao jogo. De que forma esse retorno te impactou?
São dois momentos. Primeiro, o que ele sai e eu fico sem acreditar porque, de todas que estavam no paredão, ele era a que eu menos imaginava sair. Aí eu penso: “caramba, o Arthur saiu. Ainda há esperanças, temos chances de chegar à final”. Dois dias depois o Arthur volta e o sentimento que eu tinha de fracasso triplica! Pensei: “não adianta, vai sair uma por vez”. Quando a Lina, que era uma das pessoas que eu achava mais fortes, é eliminada, a Natália sai e eu me vejo sozinha, imaginei que seria a próxima. No fundo eu tinha um sentimento de que podia dar certo, mas não deu. Nem o destino estava do nosso lado.
Você e o Pedro Scooby tiveram alguns desentendimentos ao longo da temporada, mas ele foi um dos participantes que mais te apoiou quando suas amigas deixaram a casa. Fale um pouco sobre como você vê a relação com ele.
Hoje eu acho que, depois da Lina e da Nat, ele era uma das pessoas que mais torcia por mim na casa. Ele falava com o olhar que queria me ver bem, que queria me ver na final, que estava feliz com a minha trajetória. Acho que foi muito importante ter tido essa reviravolta na nossa relação. Fez com que eu me sentisse um pouco mais abraçada por todos porque, querendo ou não, no grupo dos meninos, o Scooby é muito importante. Saber que ele estava me defendendo, torcendo por mim, me deixava mais segura, de alguma forma.
Seu grupo falou várias vezes que tinha muita falta de sorte no jogo. Inclusive pegou consequências negativas no jogo da discórdia, recentemente, com você indo ao “acampamento BBB”. Olhando agora, você acredita que tiveram mesmo falta de sorte na temporada ou que estavam fazendo o jogo errado no programa?
Acho que tem um pouco das duas coisas. Realmente tiveram momentos em que fizemos o jogo errado; eu penso que principalmente em relação aos votos. Muitas vezes a gente não conseguia articular esses votos, jogar junto. Mas também teve muita falta de sorte. Por exemplo, quando o Lucas foi líder na quinta semana. Ele era a única pessoa que, até então, poderia me levar para o Vip. O que eu faço? Sou a última da prova, um lugar em que, independente do que acontecesse, eu não poderia ir para o Vip. Isso, para mim, era muita falta de sorte mesmo. Mas, ao mesmo tempo, tem momentos decisivos. No bate e volta desse mesmo paredão, tinha tudo para dar errado, estava pegando todos os números errados, e de repente escolho três números certos seguidos e consigo ficar na casa mais um pouco. Então, foi uma mistura de tudo, e que fez nós sermos os mais azarados da edição. E, olha, não foi fácil, não (risos).
Teria feito algo diferente no confinamento, olhando para trás?
Talvez no início. Se eu tivesse dado o start um pouco antes, talvez eu tivesse conseguido viver muitas mais experiências positivas, talvez chorado menos... Mas, ao mesmo tempo, eu acredito que se tudo está assim foi devido a esse momento tenso que eu tive que passar lá dentro para construir essa nova Jessi, essa Jessi que fala mesmo, que batia de frente, que respondia na hora que tinha que responder. Então, o sentimento é de que talvez eu mudaria um pouco o início, também, o de estar conformada com o que aconteceu porque foi importante.
Que aprendizados leva do BBB?
Lá dentro a gente desconstrói um monte de coisas e reaprende outras. Muitas coisas eu fui pensando de uma forma e mudou quando eu ouvi outras pessoas falarem, vi diferentes contextos. Isso me transformou muito. Não tem como entrar no BBB e sair sendo a mesma pessoa. Falamos sobre o Scooby e ele, por exemplo, trouxe para mim uma nova visão sobre a vida, sobre ver as coisas de forma mais positiva. Ele sempre falava sobre a metade do copo, o meio cheio. E uma das coisas que eu vou trazer comigo é essa leveza, sempre acreditar que o melhor vai acontecer, que nada é o fim do mundo e, se não der para resolver algo, a gente faz outra coisa... É sobre ser paciente com as coisas que a vida traz, ter calma e tentar resolver da melhor forma possível. O BBB é incrível, a melhor experiência de todas!
Você já não tem mais nenhuma de suas amigas no jogo. Para quem fica sua torcida agora e por quê?
Ontem eu falei uma coisa, mas hoje vou “desfalar”. Falei sobre o Eli, mas agora entendendo todo o contexto, a minha torcida é pelo Scooby. Eu já tinha falado com ele em uma festa que se ele ganhasse o prêmio eu ficaria muito feliz. E se ele ganhar eu realmente vou ficar muito feliz porque ele é sensacional, uma pessoa incrível.
Quais são seus planos para daqui para frente? Pretende seguir nas salas de aula ou experimentar novas propostas?
Eu não pretendo voltar para a sala de aula em um primeiro momento. Nesses primeiros meses, eu quero aproveitar outras experiências que o programa vai me trazer daqui para frente. Mas quero, sim, continuar na área da educação, falando da Libras. Quero também falar sobre outras questões de empoderamento, independentemente da área que for. Quero dar voz a outras coisas. Vou aproveitar esse momento para me descobrir em outros lugares que eu não conheço. Então, tudo que tiver de oportunidade para mim eu vou abraçar. Mas, claro, eu amo dar aula! Foi isso que construiu a minha trajetória, o meu jeito de ser. Não tem como eu dizer que não vou mais dar aula porque eu gosto de dar aula. Muitas vezes, eu falava para os meus alunos: “eu estou dando aula para vocês não é por causa de dinheiro, não, é porque eu gosto mesmo” (risos). Porque, de fato, essa não é uma profissão muito bem paga, é por amor, mesmo. Não tem um sentimento que explique o que é ensinar, eu gosto muito! Vou viajar por tudo que eu puder fazer, mas sempre lembrando que eu sou professora, que gosto de dar aula, que quero ensinar, que eu quero estar na educação mesmo.
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